quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A ficção de Lourdinha Leite Barbosa

Publicado em 16 de outubro de 2011


O livro "Pela moldura da janela & outras histórias", de Lourdinha Leite Barbosa, foi agraciado pela Academia Cearense de Letras com o Prêmio Milton Martins de Contos. Isto, por si só, já lhe aponta o reconhecimento de seu valor literário.

A autora também dispensa apresentação. Seu mérito profissional e literário é atestado com frequência por seus pares. Aqueles que a conhecem, sabem que a sua intimidade com as letras vem dos longes de sua história, tendo ela se feito matéria de sua trajetória - de Professora e de pesquisadora da UECE, de ensaísta e de ficcionista - e que pode ser atestada por suas diversas publicações em revistas especializadas, livros e coletâneas. É membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste, da qual foi presidente de dinamismo marcante, colorido por seu amor a tudo aquilo a que se dedica. Sendo, no momento, um dos membros de sua direção.

A tessitura ficcional

No texto de apresentação que escrevemos para constar em "Pela moldura da janela e outras histórias" tivemos a oportunidade de discorrer sobre os principais aspectos formais que caracterizam a sua tessitura ficcional. Eles nos permitem caracterizar o estilo de sua autora, seu modo de recortar com a palavra o real.

Aspiramos aqui, tão-somente, falar-lhes de um detalhe para o qual chamamos a atenção do leitor: um tipo de efeito estético, que se depreende da narrativa, que nos permite aproximar seus contos da pintura, afastando-se do modo convencional com que se ordenam os elementos como o tempo, o espaço, o foco e o discurso na construção da narrativa.

Singularidades

Ambicionamos abordar esse aspecto por considerar ser ele o mais singular desse seu novo livro, e o que mais diz do seu estilo, pois, residi nisso uma singularidade. O modelo do estilo, por sua vez, faz confluir a ética e a estética, ponto fundamental na consideração estilística do literário, consoante o entendimento que fazemos desse aspecto, dentre tantos outros que dizem de sua desafiadora face. (Texto I)

O título, embora nos reenvie para um dos contos, diz por via metonímica muito das outras histórias do livro. Nele, o olhar do narrador pende da janela, mas qual a posição de seu olho? Localizado numa zona de fronteira - a moldura - portanto situado dentro e fora dela -, observa-se a produção textual do desequilíbrio das forças contrastantes ou surpreendentes que desfiguram o cotidiano de suas personagens. Por intermédio da própria materialidade da escritura, na medida em que expõe a vocação polifônica da palavra e a as suas fraturas a um só tempo: sua face significante e de letra. (Texto II)

Dos efeitos dessa exposição, resulta o que Lyotard (1971) relaciona com a origem não significável da linguagem: "le silence contenu dans la parole". A autora atesta com seus contos a realidade desse silêncio elementar; e sua busca consiste em melhor figurá-lo. Tarefa que se concretiza na sua escrita, que se situa no limite dos campos privilegiados à sua figuração: a ordem da linguagem - especialmente através da produção do ritmo próprio ao campo poético por meio da figura-forma - e o campo pictural por meio da figura- imagem.

Trata-se de uma escrita que navega em ziguezague à cata das aventuras do significante. (Texto III)

A moldura

A singularidade desse procedimento resulta em uma sorte de metaficção, onde se confundem a feitura do ficcional com a potência e a impotência da palavra em significar o impossível, por isso mesmo, além da exposição desse limite, o que a autora projeta a partir da moldura da janela é a tela mesma da fantasia e por esse procedimento frutifica a relação de cumplicidade entre o texto e o seu leitor. Este tem por vocação, no silêncio mesmo de sua leitura, dar um sub-tratamento à fantasia do autor - que no caso do livro oscila entre sua produção e dissolução, pois, em muitos momentos, o cromatismo que se impõe como processo de significação, aspira, justamente, recompor a fratura que as epifanias provocam na fantasia - o despertar para o real intolerável - convocando o leitor novamente ao sonho. Dessa forma, a produção do sentido depende desse entrelaçamento entre a fantasia do autor e a fantasia do leitor que a voz narrativa procura, assim, potencializar.

Trechos

TEXTO I

Os quadros mais antigos se alargaram e forçaram os mais recentes a se comprimirem. Nesse empurra-empurra, alguns se inclinaram. Ingrid percebeu um leve rumor e recolocou -os em seus lugares. As cinco mulheres de branco que se dirigiam às suas casinhas, no quadro de moldura negra, assustaram -se com o movimento e apressaram o passo.

A luz atravessou a janela e pousou sobre o quadro em que uma moça caminhava por uma rua ensolarada. Ela estancou, largou a cesta que mantinha encostada ao quadril e rodopiou sobre o calçamento irregular. ("Quadros em movimento", p. 43)

TEXTO II

Acordou com os primeiros raios de sol, abriu a janela e foi surpreendida por uma cena inusitada: no apartamento em frente, um casal fazia amor com as janelas abertas. Sentiu -se atraída pela perfeição dos corpos em movimento e uma sensação de plenitude a invadiu. Longos eram os cabelos da mulher, ruivas faíscas sobre o lençol. O branco de sua pele contrastava com os escuros braços lascivos que a envolviam.

Sentindo -se observada, a moça fechou a cortina. Percebeu, então, que a cinza cortina que recobria seus olhos havia -se rompido.

("Pela moldura da janela", p. 22)

TEXTO III

Tentando controlar o tropel das recordações, o filho entrou na casa trazendo a filha menor pela mão, vinha cumprir a terrível missão de desalojar suas mais caras recordações. Ali, permaneciam intocadas sua infância e juventude, desaninhar uma ausência tão presente e violar seus segredos era abrir uma ferida ainda não sarada. Fotos, orações, documentos, já não tinham qualquer serventia. Por entre frestas, podia ouvir o ressoar da voz materna:

"Não sei onde guardei aquelas fotos das bodas de sua tia Antonieta", "Veja esta foto de minha irmã Stela aos dois anos".

Eram lembranças de uma vida, cujos personagens perderam -se no tempo.

Buliçosa, a menina abria e fechava gavetas sem que o pai, aprisionado no passado, percebesse. De posse da velha agenda, ela debruçou -se na cama e começou a escrever o nome e telefone de suas amigas sobre as linhas esbranquiçadas, avivando as borboletas azuis, que, levemente, retomavam seu voo.

LAÉRIA FONTENELE
COLABORADORA*
*Psicanalista e prof. da UFC

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2 comentários:

Unknown disse...

“A VITÓRIA PERTENCE AO MAIS PERSEVERANTE..
“O SUCESSO É A SOMA DE PEQUENOS ESFORÇOS”...

Parabenizo e homenageio por meio deste a ESCRITORA LOURDINHA LEITE BARBOSA e toda a equipe pelo lançamento do livro “PELA MOLDURA DA JANELA E OUTRAS HISTÓRIAS”. Parabéns pelo EXCELENTE TRABALHO, DETERMINAÇÃO E PROFISSIONALISMO, realizado neste belíssimo trabalho e um brinde pelo SUCESSO! O potencial de trabalho de vocês é de grande valor para a comunicação brasileira. Recebam esta singela homenagem com meus sinceros votos de muitas realizações e planos futuros. Desejo nestas poucas palavras votos de muita SABEDORIA, CONHECIMENTO, ENTENDIMENTO e principalmente DISCERNIMENTO em todos os seus caminhos. Acabei de depositar na conta de vocês a importância de muitos DIAS, SEMANAS, MESES E ANOS DE FELICIDADE E PROSPERIDADE, SAÚDE, PAZ, AMOR e que Deus estenda às mãos sobre vocês e toda sua família e acrescente 100 por cento de juros em cima de tudo isso.


“A MAIOR RECOMPENSA PELO TRABALHO NÃO É O QUE A PESSOA GANHA, MAS O QUE ELA TORNA- SE ATRAVÉS DELE.”


DESEJO SUCESSO A TODOS!


PAULINHO Solução
www.paulinhosolucao.blogspot.com
paulinhosolucao@gmail.com
pssolucao@hotmail.com
Salto/SP

Ilton Aparecido de Paiva disse...

Li e tenho guardado com carinho esse excelente livro autografado pela autora.
Ilton Paiva